sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Caminho

Indecisão. Talvez seja essa minha palavra de hoje. E tudo que eu preciso – mas não necessariamente quero – é de um sinal. Algo que me mova para frente, ou para trás, tanto faz! Algo que me tire desse estado de inércia em que eu mesma me acomodei. A verdade é que já sou grandinha, tenho escolhas a fazer. Mas ainda não sei como abdicar daquilo que, durante anos, amei, cultivei, cativei e, em certos momentos, fiz das tripas coração para não perder. Como escolher entre o aqui e o acolá, o quente e o frio, a chuva e a seca, o mar e um simples e poluído lago. A opção mais certa parece óbvia. Mas cada lugar, cada pessoa, cada pingo de chuva ou cada folha seca me compõem de alguma forma bem especial.

Mas também não venha me dizer que o arriscar não é legal, às vezes é necessário, concordo. Então, nem penso em desistir do adiante, mas tenho medo do estranho, tenho pavor de sofrer e não conseguir voltar a fita. Afinal, está tudo tão certinho. Meu pavor é que eu de alguma forma deixe de fazer parte de um mundo e viva só no outro. Entende? Nem eu. É por isso que escrevo. As palavras me acompanham em qualquer lugar, a qualquer hora, com qualquer clima. Mas e você, vai estar ai quando eu precisar?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Momentos em que eu sou eu

Eu, às vezes, erro. Em outras, dou uma dentro. O ser humano é assim: vive de erros e acertos. Tropeços e momentos que mais se assemelham com grandes vôos. E são esses momentos – que parecem tirar meu pé do chão – que me levam além. Além de mim, do que acho que sinto, do que penso que sou. Como se minha cabeça, por alguns instantes, pensasse como cabeça de poeta, que se deslumbra com a gota do orvalho e declara amor às formas do vento. Ainda não descobri o que me leva a pensar assim. Talvez seja o poder que eu, sem perceber, encarrego ao mundo, sobre a minha própria vida. Como se eu vivesse para os outros e não para mim. São nos momentos em que enxergo algo além do que vejo no espelho que consigo explicar meus 1 metro e 60 de altura. É quando não reparo em meus lábios, que vejo o quanto minha boca revela o que aprendo, o que penso, o que não me deixa satisfeita. E eu bem que queria viver de momentos assim. No entanto, sinto não ser possível. É cansativo demais lutar contra um mundo e mais desgastante ainda lutar com quem você acha que é.

Amanheci

Era dia. O sol forte me impedia de enxergar o horizonte. Mantive meus olhos para baixo, observando a ponta dos sapatos empoeirados. Quem passava por mim não conseguia perceber meu rosto, minha agonia por aquela repentina cegueira. Quem me cumprimentava não entendia porque nunca o olhava nos olhos. Passei anos assim: sem coragem de levantar a cabeça, com medo de ir adiante e, sem querer, dar de cara com um tronco. Nunca me toquei de quantas pessoas eu perdi pelo caminho, em quantas vidas eu não pude me inspirar. Em todo esse tempo, não tive noção de que, aos poucos, parte de mim ia embora. Não passei nada adiante, não experimentei nada novo. Nos esbarrões que dei pelo caminho, ouvi apenas palavrões, frases torpes.
Resolvi levantar a cabeça, olhar para frente e enfrentar a luz que vem em minha direção. Quando preciso, fecho os olhos por alguns instantes, mas sem perder o foco. Hoje, eu falo e escuto, doou e recebo algo que não fazia idéia que existia. Em cada relação que estabeleço, encontro pedaços de mim que ainda não conhecia.

Minha avó

Existem flashes na vida que nos tiram de órbita. Não sei por que! Ainda não consegui desvendar o mistério para tamanha confusão. Sei que talvez essa não seja a melhor maneira de começar um texto, sendo assim, totalmente, dramática. Mas não vi outra maneira para definir o que se passa em minha cabeça agora!

Pego ônibus todos os dias, em várias situações diferentes. E – se você é brasiliense vai concordar comigo – essa atividade tem sido demasiadamente estressante ultimamente. Os carros não passam, quando passam são entupidos. Sem contar nas vezes que, gentilmente, eles decidem quebrar. Enfim, essas longas horas, - desculpe a cacofonia - parada na parada, são as piores horas do meu dia. Não é o fato de pegar ônibus que me estressa, mas sim o fato de ter que esperá-lo durante mais de sessenta minutos. Mas, dessa vez foi diferente!
Esses minutos, que antes pareciam inacabáveis, passaram voando... Tudo graças a uma senhora simpática que resolveu parar bem do meu lado. Seu sotaque engraçado, sua postura curvada e os cabelos presos cuidadosamente com grampos coloridos me chamaram a atenção. A voz era chorosa, as queixas vinham com facilidade.
- Eu não vou entrar nesse ônibus cheio. Não vou mesmo! – disse ela, assistindo o ônibus partir.
- Tem nem lugar para sentar, minha filha –

Agora, aquele olhar com uma tristeza doce se dirigia a mim e, não sei por que, me deixava desconcertada. Eu me senti como filha ou neta – não sei ao certo – que passara anos longe dos abraços dela. Eu nunca a vi antes, por isso não sei explicar de onde tirei tal sentimento. Minhas mãos frias e pernas bambas não escondiam minha vontade de escutar minuciosamente o que aquela senhora queria me falar.

A conversa tomou outro rumo. O transporte, por alguns instantes, não era mais o foco do nosso diálogo. Ela me falou do problema no dedo, que tinha cortado há semanas e que ainda não havia cicatrizado; do peso das sacolas; da vontade de estar em casa. Quase chorando, com a voz alterada – me lembrava uma criança -, ela me contou sobre o câncer e como não conseguia dormir. Foi aí que os meus olhos não conseguiram controlar as ordens que vinham de dentro. Eu chorei!

A senhora voltava de uma consulta no Hospital de Base, onde descobrira que o tumor que tinha no seio direito tinha voltado. Ela não parecia assustada com isso. O que a incomodava era o fato de ter que decidir se tiraria ou não a mama. Como uma neta mais velha, que se preocupa com a saúde da avó, a perguntei há quanto tempo ela não se consultava e a aconselhei a deixar de lado a vaidade, só por algum tempo. Ela respondeu:

- É mesmo né, minha filha? Já era para eu ter tirado isso...

Ela escutava minhas palavras com atenção, dando importância a cada adjetivo mal empregado. E eu me esforçava para que tudo aquilo que eu dizia fizesse algum sentido e a comovesse de alguma forma.

O ônibus chegou! Nunca havia passado tão rápido. Eu me despedi com pesar, uma saudade que parecia tomar conta de mim e que me dizia que tão cedo não iria embora. Ainda rezo para que de alguma forma eu tenha a marcado como ela me marcou, para que qualquer dia, quando eu a reencontrar nas paradas da vida, ela me cumprimente com um sorriso simpático e um oi arrastado. O nome dela? Não sei. Achei que seria feio uma neta perguntar o nome da avó.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mariana Alves Pereira

Eu daria qualquer coisa para voltar a ser criança. É que, assim, bem de repente, me deu uma saudade de me esconder no abraço do papai, que ,com um sopro, sarava meu dodói e com um beijinho me colocava para dormir. É que, em quase dezesseis anos, eu nunca tinha parado para pensar em quantas coisas eu abdiquei para tentar ser gente grande. Não tenho mais a bota da Xuxa, a casinha da Moranguinho e um bambolê multicolorido. Minha mãe não arruma mais meu cabelo, não me põe uma roupa bonita e nem me leva para a escola. E meu pai... Meu pai não me dá mais boa noite todo dia, ou faz meu prato predileto no almoço. Ele não me conta mais histórias, não me leva pra passear ou trás papéis do trabalho pra eu brincar de escritório na sala. Ele nem ao menos entra na frente da mamãe para me defender de umas boas palmadas. Como eu gostava de fingir que estava dormindo só para ele me carregar no colo, como eu me esforçava para acompanhar seus passos apressados - minhas pernas doíam, mas eu não queria parar – e como eu sentia saudade quando ele demorava a voltar para casa. Acontece que, dessa vez, ele está demorando demais. Ele perdeu alguns aniversários, se atrasou para outros. Mentiu sobre algumas visitas e sumiu durante meses. E, nessa semana, quando ele me pediu desculpa por isso, foi como se meu coração parasse e começasse a bater de novo, como se o sorriso que ficou escondido naquela festa de aniversário, enquanto eu o procurava para entregar o primeiro pedaço, pudesse finalmente deixar meus lábios. Às vezes, meio que do nada, me dá uma vontade de chorar... E eu começo a rezar baixinho, pedindo para que a saudade diminua e o meu fôlego volte. Me fiz de forte, fingi que era aquilo o melhor para todos, mas a verdade é que só eu sei a falta que meu super herói particular faz. Eu ainda lembro da disposição de cada móvel da casa, lembro do carro velho dele parado do lado de fora e do bar aonde ele começava a ir. Minha infância é mais nítida na minha mente do que o dia de ontem. Isso me aproxima dele! Eu lembro do automóvel com algumas tralhas e lembro de ter dito tchau. Eu nem entendia porque... Achei que voltaríamos logo, os três para casa....

Ele é o homem mais importante da minha vida, a minha maior saudade. Eu adoro ser sua secretária, ler seus e-mails, digitar suas cotações. Adoro qualquer coisa que me deixe pelo cinco minutos a mais do seu lado. Talvez, se tivéssemos ficado juntos, hoje seria tudo diferente. Seríamos um e não três... E eu adoro quando estou pensando em você e você, do nada, me liga. Igual aconteceu agora. Então, de uma maneira ou de outra, estamos ligados um ao outro. Você e a menininha com cabelo engraçado enforcando o coelho. Enquanto eu conseguir guardá-la em mim, sei que também guardarei os momentos bons que passamos juntos, todos eles. As coisas não são exatamente como eu queria, ela – a menininha da parede - aparece menos do que precisava aparecer. Mas, ela, e eu também, ama demais o senhor!

Saudade

terça-feira, 24 de maio de 2011

Saudade de tanta coisa

Saudade do tempo em que eu comia trakinas sentada no tapete velho da sala, sem reclamar da vida.

Saudade do barulho da chuva, na janela do quarto, enquanto eu dormia na cama com o papai e com a mamãe.

Saudade de ouvir estórias engraçadas e desenhar com giz de cera na parede.

Saudade de derrubar varais cheios de roupa e depois ficar de castigo de joelhos, fazendo graça com as gurias.

Saudade de fazer careta, catar milho no teclado, treinar beijo na mão, ensaiar balé no espelho.

Tenho saudade do barulho que eu fazia enquanto mastigava o pirulito antes que o professor entrasse na sala de aula.

Saudade das inúmeras vezes que derramei sabão no quintal da vovó para brincar de escorrega barriga com meus primos. Para falar a verdade, eu tenho saudade dos meus primos, tenho saudade de mim. Antes, éramos uma espécie de ser dividido em vários corpos.

Tenho saudade do meu pai junto com minha mãe, da viagem que fizemos logo que eles se separaram.

Tenho saudade da minha família, que, por algum motivo, se espalhou pelo Brasil afora.

Tenho saudade de alguns ex-namorados, mas só alguns. Desses, ainda guardo um carinho especial e uma imensa saudade das horas que passávamos fazendo o que só nós fazíamos.

Eu tenho saudade do pôr do sol na praia, das ondas fortes do mar, da areia que gruda no pé. E, eu sei, que quando eu for embora de Brasília, vou sentir saudade dela também.

Tenho saudade da minha professora do pré, da minha boneca que sempre quebrava a cabeça no balanço. Tenho saudade dos tempos de ensino médio, das paqueras de menina boba. Tenho saudade da faculdade, mas só de alguns momentos.

Tenho saudade de cada lugar para onde fui nas férias, de cada pessoa boa que conheci. Tenho tanta saudade que nem cabe mais em mim. Ela se transforma em liquido fresco que escorre pelo meu rosto e transforma minhas lembranças em sorrisos. Aí, eu volto no tempo, me entrego ao momento e vivo, por alguns instantes, de pura saudade. E, se um dia eu não sentisse saudade, certamente, morreria desse mal.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Subjetivo, não vá entender errado

Não tenho paciência para tanta efemeridade. Tudo tão fugaz, que acaba me deixando perdida no meio do caminho. Realmente me choco com a tão criticada subjetividade. De mim, ela tira os suspiros mais altos, os olhares mais reveladores e o que restava dos meus neurônios. Desatenção se atenta. As mãos, os braços, a boca, entram em sintonia tentando mostrar o que as palavras fazem questão de não revelar. E, como tudo se resolve na base do dito, mas não dito, não há provas capazes de condenar alguém. Condenar por falar demais e sentir de menos, ou, apenas por não sentir certo. Condenar por atitudes infames, que a gente até sabe que existe, mas nem pode desaprovar. Não com o verbo certo. Assim, ninguém se machuca, se o sentimento muda de uma hora pra outra e um esquece de avisar o outro, afinal, ninguém nunca foi bom com as palavras mesmo. Eu até que faço o que quero, eu bem que sinto o que o coração manda, e, quando quero, eu bem que me atrevo e escrevo. É a única forma de me livrar dessa “desverbalização” a qual me submeto. Que eu disse, disse.

E se prepare para ouvir: não foi isso que eu quis dizer!

Noite

Agora, me pergunto aonde basearei os meus próximos passos. Tenho alguns minutos, antes que o sol nasça e deixe apagado o brilho de quem ainda me fazia companhia. Até que tudo volte a um normal que eu pintava de uma maneira distorcida e rabiscada, tenho algum tempo. Preciso decidir que sapato usar e me lembrar se ainda tenho alguma roupa limpa. Foram horas observando estrelas e discutindo estórias engraçadas, foram planos traçados, abandonados, repensados e deixados de lado, por mais de uma vez. Depois disso, não tinha tempo pra quase mais nada. Foram promessas que eu não pretendia cumprir, lembranças que conseguiram me alcançar e sonhos que me mantiveram acordada. Vi, de longe, a lua mudar de cor, enquanto eu me ajeita para apreciá-la. Corri, caminhei, chorei, pulei. Tudo, sem sair do lugar. Eu tive um milhão de desejos, me apaixonei umas cem vezes, até que escutei baixinho um som me trazer de volta. E, enquanto escovo os dentes, ainda penso na noite que tive, sozinha, sentada na janela, observando a lua. Ela foi minha conselheira, minha amiga por algumas horas.

Às vezes, o mundo parece parar de girar um pouquinho, para que, de alguma forma, tenhamos chance de entendê-lo. Pensamos e fazemos tantas coisas, que se não as colocamos em ordem, acabamos esquecendo quem estamos sendo.

domingo, 15 de maio de 2011

Poeta

Eu queria ser poeta e com uma vírgula traduzir a lágrima, com uma sílaba defender a lua, acusar o amor.
Eu queria ser poeta pra dizer sem falar, cantar sem ao menos meu lábios desgrudar.
Eu queria ser poeta e dona do que eu sinto, que às veze me toma e me faz perceber o quão pequena me torno diante da vida.
Eu queria ser poeta para ser o mar, o sol e meu coração. Queria poder voar e ver alegria na tristeza que compõe um soneto.
Queria viver da arte de criar poemas feitos da folha que toca o chão no outono, da água que molha meus pés na chuva. Me imaginar grande, bem maior que a sensação que me toma conta nos dias de frio, a solidão.
Ah, eu queria sorrir para a maré de azar que sempre me traria boas estórias. Queria tirar do cotidiano rimas coloridas, tirar do não uma contradição, do apego uma crônica, da decepção um aprendizado maior.
Eu queria ser poeta. Queria escrever a qualquer hora e tirar de cada líquido salgado que me cobre a face uma nova inspiração. Queria tirar do nada o meu tudo e ver o mundo de uma forma diferente, por ser diferente. O poeta ama quando quer amar, pois sabe " que todo grande amor só é bem grande se for triste".
Eu queria ser poeta!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mariana

Às vezes, é preciso agir como criança, pensar como criança e convencer o coração de que, apesar da sua altura, você não passa de alguém que corre pela rua, faz o que der na telha e se preocupa mais em sorrir do que em tratar determinados problemas. Porque tem gente que passa a maior parte da vida se preocupando em como vai se livrar dos percalços do caminho, sem perceber que, enquanto isso, a estrada vai ficando para trás sem que as coisas saiam do lugar. Perdemos muito tempo tentando achar explicações que talvez nem usemos, para respostas que ainda nem foram feitas. A vida é curta demais e há muito o que se fazer. Tem muita gente precisando da gente, e talvez essa seja nossa única chance de ajudar. Agora, não custa nada. E quem sabe se um dia chegará a custar? Fazer o que o coração pede, sem usar muito o que a consciência teme talvez seja a pedida certa. O amanhã é outro dia.

Talvez daqui para lá os problemas se resolvam e tudo fique bem. Mas, enquanto pedem a nossa ajuda, por que não ajudar, se é isso que temos vontade de fazer?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu bem que queria...

Eu queria saber voar. Fechar os olhos, sentir o vento soprar no meu rosto, abrir os braços e, finalmente, sentir a liberdade de que tanto falam. Eu queria ter o poder de sobrevoar montanhas, observar tudo do alto e descer quando estivesse cansada. Queria ter as asas de um passarinho pequeno, que, mesmo com todo aquele ar de indefeso, tem o mundo aos seus pés. Eu queria a mesma simplicidade, a mesma beleza e a mesma força. Se eu pudesse escolher, queria também o mesmo assoviar. Com tanta naturalidade, uma musica capaz de encantar qualquer um, de qualquer lugar do mundo, o idioma, aí, é o mesmo, não há barreiras. Ah, e eu voaria só com esse meu dom de cantar. Mas eu queria que minhas asas trouxessem de volta quem está longe e não pôde voltar, quem precisou ir e não sabe como chegar, quem apenas foi, sem pretensão nenhuma de se afastar. Eu só queria ver o amanhecer de perto, enquanto sobrevôo as ondas do mar e trisco, lentamente, a água calçada. Eu queria saber voar, me atirar e ir. Sair de perto, sem desistir. Esquecer a saudade, me afastar da falta de humanidade, descansar, passear. É, seria bom. E quando eu já tivesse conhecido o mundo, montaria meu ninho e viveria o resto da vida num cantinho qualquer, embaixo de uma árvore, bebendo água fresca e escutando a água bater nas pedras perto de casa.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O tempo atropela


O mundo já não é mais o mesmo. Enquanto escrevo, não consigo, nem ao menos, ordenar todas as disparidades que me vêem a mente. Quando era criança, eu costumava andar de bicicleta, jogar futebol na rua e enrolar minha mãe para não tomar banho. Eu bem que tive alguns amores, mas nenhum fugiu da regra. Eram todos platônicos. Aprendi a me maquiar já com uma certa idade, na mesma época em que me percebi indo para a faculdade. Já com meus doze anos, tudo o que eu queria era uma Barbie nova para brincar. Eu tinha várias, com “n”tipos de cabelo, cor, perfume. Me divertia com pedaços de pano, tentando descobrir como transformá-los em uma moderna blusa. Eu, naquela época, não trocava minhas bonecas por nenhum par de sapatos da nova coleção da sapato da corte. Eu era feliz e nem me tocava disso. Ia para a escola com qualquer calça confortável e brigava com os meninos na fila para o banheiro. Eu dançava quadrilha, obedecia as regras, batia nos meus primos, brincava de careta e fazia planos de morar com minhas primas quando eu crescesse. Pois é! Eu cresci. Ganhei um zilhão de responsabilidades. E, quando me lembro, ainda tento parar e observar as estrelas caindo. Carrego, no pulso, a dos meus sonhos, que, quando mais nova, descobri que era meu anjo. Ainda acredito em contos de fadas e em desejos mirabolantes. Eu ainda quero ser atriz de cinema e morar em uma casa com vista com mar. Quero paz para a minha família e um domingo cumprido no parque. Mas eu não sei mais brincar. Eu esqueci a magia de transformar minhas bonecas em amigas confidentes. Esqueci como fechar os olhos para o tempo, enquanto os fantasmas se escondem. Eu nem ao menos me lembro como faço para pedir um beijo de boa noite para a mamãe.

O tempo passa, e ao invés de somar, se não ficamos atentas, ele nos leva o que há de mais precioso. Não precisamos ter medo de ser o que somos, com medos, ingenuidades, fraquezas, brandura. Coisas que só uma criança tem. Se aprendermos a conservar esses valores com a gente, talvez consigamos preservar também nossa felicidade e inocência. Então, que tenhamos força para acreditar no que somos, mesmo que os outros lhe chamem de careta. Pior que ser julgada por alguém é ter motivos para se julgar e se arrepender do que fez!

sábado, 30 de abril de 2011

Qualquer dia, eu

Sou quem preenche o papel, quem toca o vento e sente o sabor da água. Sou cada pingo de tinta, cada curva da letra, cada excitação do parágrafo. Sou o ritmo da música, o rumo da história, as pedras do caminho. Eu sou pouco, sou muito, sou o bastante. Eu sou exatamente cada letra da canção, cada significado do recado. Sou os signos do imaginário, sou a força do torcedor. Eu sou um pingo, um furacão. Sou um nada, eu sou tudo. Sou tudo o que quero ser, mais do que imaginava perceber. Aqui, nessa folha em branco, sou o possível, o impossível, sou eu de verdade. Fora daqui não me conheço. Fora daqui sou apenas mais um ser humano estranho que perambula pelo mundo a procura de razões. Fora daqui não me verão.

Duas ou uma?

Por que o tempo passa e nem ao menos nos deixa respirar? Ontem, eu era uma e, hoje, sou outra. Duas pessoas que até se conhecem, mas não se entendem. O que era certo para a uma a outra nunca pensou em fazer. As roupas e cabelo que a uma usava a outra, hoje, só sabe criticar. Quem a uma beijou a outra nunca sonhou em beijar. No entanto, a outra inveja a inocência e paciência que só a uma teve. Ela até que é feliz... mas sorri menos, sonha menos e deseja pouco. Ela é mais acomodada. Pobre menina, já perdeu a esperança. Eu queria ser uma, a única, com vontade suficiente para mudar o que me incomoda e correr atrás do que me interessa. Mas queria ser outra, com o pé no chão, experiência e maturidade. Uma conhece a outra, uma bem que completa a outra, mas eu nunca soube como uní-las.

Para a filha que eu, de algum modo, ainda tenho


Filha, pode ser que um dia nem lembre mais o meu rosto. Pode ser que minha voz se confunda dentro da sua cabeça e você não mais a reconheça. Pode ser que o que te dei seja pouco para que eu ocupe suas lembranças. Mas a verdade é que eu não posso garantir que isso se repita comigo. Seu sorriso estridente, sua voz mais doce que mel e sua esperteza incomparável vão ficar gravadas em mim para sempre. Sinto orgulho do pouco tempo que escutei você me chamar de mãe, e, só Deus sabe, como eu me sinto ao pensar que talvez isso não se repita. Te amo do jeitinho que você é: respondona, inteligente, curiosa e teimosa. A mais linda, mais carinhosa, mais espetacular.

- Um dia, enquanto eu chorava por ter brigado com minha mãe, você deixou sua travessura de lado, desceu do sofá apressada e foi até mim. Com a voz mais serena do mundo, me disse baixinho: o que foi, mamãe? Mamãe, por que você tá chorando? Ein?

Parecia gente grande. Enquanto você limpava meu rosto, olhava para mim com um olhar de preocupação. Você realmente queria saber porque eu estava tão triste. A verdade é que nunca fui consolada daquele jeito.

Depois disso, você levantou rápido, saiu de perto de mim, foi até o quarto e disse: Tia Lúcia, a minha mãe está chorando, tadinha.

Foi, mesmo contra minha vontade, mesmo eu te pedindo para ficar. Você, de algum jeito, sabia que aquilo era o que faltava.

E, se algum dia pensares em mim, pense também que eu te amo. Agora e sempre, te amo!

Todo mundo tem uma trilha sonora

O que seria do mundo sem uma Trilha Sonora? Eu não consigo imaginar. Ouço música quando acordo, quando estou apaixonada e quando quero me apaixonar. Escolho a música certa para quando vou viajar, para quando vou deitar – e aí depende se quero ou não dormir. Imagino a música que deveria estar tocando até quando não ouço nenhuma. A música me envolve quando estou sozinha, bem acompanhada ou totalmente mal acompanhada. Tenho as músicas que lembram meus amigos, as que lembram meus amores, meus desamores e até meus inimigos (sim, eu os tenho também). Meu repertório? Tem de tudo. Desde sertanejo até Elvis Presley. E não ache que estou desrespeitando o rei, mas tem dias que não estou muito afim do melhor. Tem dias que tudo o que quero é dançar e “curtir a vida”. Mas, na maioria deles, eu prefiro escutar aquilo que parece ter sido escrito por alguém que sentia exatamente o que eu sinto, mas que, de alguma forma, conseguiu transformar aqueles sentimentos em poesia. Coisa que eu, na minha mortalidade, não consegui. Por isso, tem musica para cantar e apreciar, tem ainda as de gritar e as de calar e refletir. Tem aquelas que nos deixam com uma pulga atrás da orelha pensando como alguém foi capaz de escrever tamanha poesia. Enfim, tem música pra tudo. E essa musica é como o pincel que colore o mundo. Tem a cor exata para cada dia, cada expressão, cada momento. Ah, eu amo musica. Amo o mundo que coloreio a meu modo!

...

Estranha ou não, eu sou quem eu sou. Por querer, ou, simplesmente, por ser. Quando me esqueço de me ajeitar, sou o eu que alguém pintou. Quando atenta, consigo me fazer mais perfeita. Então, sou desleixo e atenção, distração e atuação. Tenho mais cenas que qualquer filme, sou mais cumprida que qualquer frase mal escrita. Mas, em instantes desligados, sou preguiça e comodismo. Sensata ou não, eu sou eu. Com paranóias incontroláveis e sonhos absurdos. Com boca seca, mãos tremulas e voz que prefere um sussurro. Simpática ou não, sou exatamente eu.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Quem eu quiser ser

Sinto que preciso de um pouco mais de poesia, uma pitada a mais de romantismo. O que me falta é deixar que o peso dos meus dedos debrucem de maneira desajeitada e livre esse pedaço de papel de toda essa monotonia sem cor. Eu desejo um pouco mais de ousadia, preciso de bem menos pudor. Para que escreva palavras curtas e não me perca nas curvas de cada parágrafo, quero mais lucidez, recheada com bastante sensatez. Quero coragem de ser eu e mais alguém. Ser eu, ela, ele, quem me der na telha, sem me preocupar com quem me apontará. Agora o que me falta são os pontos para enfeitar a estória e um pouco de distancia para aprecia-la sem me envolver. Quero meus cabelos compridos, minha blusa rasgada e minhas botas de cowboy, enquanto tomo, lentamente, uma dose de tequila. Preciso de minhas lembranças de forma fiel, uma inspiração que só eu terei. Cada papel me abalará de uma forma diferente e eu, finalmente, poderei interpretar alguém mais feliz!