Existem flashes na vida que nos tiram de órbita. Não sei por que! Ainda não consegui desvendar o mistério para tamanha confusão. Sei que talvez essa não seja a melhor maneira de começar um texto, sendo assim, totalmente, dramática. Mas não vi outra maneira para definir o que se passa em minha cabeça agora!
Pego ônibus todos os dias, em várias situações diferentes. E – se você é brasiliense vai concordar comigo – essa atividade tem sido demasiadamente estressante ultimamente. Os carros não passam, quando passam são entupidos. Sem contar nas vezes que, gentilmente, eles decidem quebrar. Enfim, essas longas horas, - desculpe a cacofonia - parada na parada, são as piores horas do meu dia. Não é o fato de pegar ônibus que me estressa, mas sim o fato de ter que esperá-lo durante mais de sessenta minutos. Mas, dessa vez foi diferente!
Esses minutos, que antes pareciam inacabáveis, passaram voando... Tudo graças a uma senhora simpática que resolveu parar bem do meu lado. Seu sotaque engraçado, sua postura curvada e os cabelos presos cuidadosamente com grampos coloridos me chamaram a atenção. A voz era chorosa, as queixas vinham com facilidade.
- Eu não vou entrar nesse ônibus cheio. Não vou mesmo! – disse ela, assistindo o ônibus partir.
- Tem nem lugar para sentar, minha filha –
Esses minutos, que antes pareciam inacabáveis, passaram voando... Tudo graças a uma senhora simpática que resolveu parar bem do meu lado. Seu sotaque engraçado, sua postura curvada e os cabelos presos cuidadosamente com grampos coloridos me chamaram a atenção. A voz era chorosa, as queixas vinham com facilidade.
- Eu não vou entrar nesse ônibus cheio. Não vou mesmo! – disse ela, assistindo o ônibus partir.
- Tem nem lugar para sentar, minha filha –
Agora, aquele olhar com uma tristeza doce se dirigia a mim e, não sei por que, me deixava desconcertada. Eu me senti como filha ou neta – não sei ao certo – que passara anos longe dos abraços dela. Eu nunca a vi antes, por isso não sei explicar de onde tirei tal sentimento. Minhas mãos frias e pernas bambas não escondiam minha vontade de escutar minuciosamente o que aquela senhora queria me falar.
A conversa tomou outro rumo. O transporte, por alguns instantes, não era mais o foco do nosso diálogo. Ela me falou do problema no dedo, que tinha cortado há semanas e que ainda não havia cicatrizado; do peso das sacolas; da vontade de estar em casa. Quase chorando, com a voz alterada – me lembrava uma criança -, ela me contou sobre o câncer e como não conseguia dormir. Foi aí que os meus olhos não conseguiram controlar as ordens que vinham de dentro. Eu chorei!
A senhora voltava de uma consulta no Hospital de Base, onde descobrira que o tumor que tinha no seio direito tinha voltado. Ela não parecia assustada com isso. O que a incomodava era o fato de ter que decidir se tiraria ou não a mama. Como uma neta mais velha, que se preocupa com a saúde da avó, a perguntei há quanto tempo ela não se consultava e a aconselhei a deixar de lado a vaidade, só por algum tempo. Ela respondeu:
- É mesmo né, minha filha? Já era para eu ter tirado isso...
Ela escutava minhas palavras com atenção, dando importância a cada adjetivo mal empregado. E eu me esforçava para que tudo aquilo que eu dizia fizesse algum sentido e a comovesse de alguma forma.
O ônibus chegou! Nunca havia passado tão rápido. Eu me despedi com pesar, uma saudade que parecia tomar conta de mim e que me dizia que tão cedo não iria embora. Ainda rezo para que de alguma forma eu tenha a marcado como ela me marcou, para que qualquer dia, quando eu a reencontrar nas paradas da vida, ela me cumprimente com um sorriso simpático e um oi arrastado. O nome dela? Não sei. Achei que seria feio uma neta perguntar o nome da avó.
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