
O mundo já não é mais o mesmo. Enquanto escrevo, não consigo, nem ao menos, ordenar todas as disparidades que me vêem a mente. Quando era criança, eu costumava andar de bicicleta, jogar futebol na rua e enrolar minha mãe para não tomar banho. Eu bem que tive alguns amores, mas nenhum fugiu da regra. Eram todos platônicos. Aprendi a me maquiar já com uma certa idade, na mesma época em que me percebi indo para a faculdade. Já com meus doze anos, tudo o que eu queria era uma Barbie nova para brincar. Eu tinha várias, com “n”tipos de cabelo, cor, perfume. Me divertia com pedaços de pano, tentando descobrir como transformá-los em uma moderna blusa. Eu, naquela época, não trocava minhas bonecas por nenhum par de sapatos da nova coleção da sapato da corte. Eu era feliz e nem me tocava disso. Ia para a escola com qualquer calça confortável e brigava com os meninos na fila para o banheiro. Eu dançava quadrilha, obedecia as regras, batia nos meus primos, brincava de careta e fazia planos de morar com minhas primas quando eu crescesse. Pois é! Eu cresci. Ganhei um zilhão de responsabilidades. E, quando me lembro, ainda tento parar e observar as estrelas caindo. Carrego, no pulso, a dos meus sonhos, que, quando mais nova, descobri que era meu anjo. Ainda acredito em contos de fadas e em desejos mirabolantes. Eu ainda quero ser atriz de cinema e morar em uma casa com vista com mar. Quero paz para a minha família e um domingo cumprido no parque. Mas eu não sei mais brincar. Eu esqueci a magia de transformar minhas bonecas em amigas confidentes. Esqueci como fechar os olhos para o tempo, enquanto os fantasmas se escondem. Eu nem ao menos me lembro como faço para pedir um beijo de boa noite para a mamãe.
O tempo passa, e ao invés de somar, se não ficamos atentas, ele nos leva o que há de mais precioso. Não precisamos ter medo de ser o que somos, com medos, ingenuidades, fraquezas, brandura. Coisas que só uma criança tem. Se aprendermos a conservar esses valores com a gente, talvez consigamos preservar também nossa felicidade e inocência. Então, que tenhamos força para acreditar no que somos, mesmo que os outros lhe chamem de careta. Pior que ser julgada por alguém é ter motivos para se julgar e se arrepender do que fez!
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