quinta-feira, 12 de junho de 2008

Análise de matéria da VIP




O produto escolhido para a análise foi uma matéria de Carla Monteiro, publicada na sessão Preliminares da revista VIP do mês de abril de 2008. O texto, de título A Melancia Encolheu! conta um pouco da trajetória de Andressa Soares que ficou conhecida como Mulher Melancia, devido suas formas exageradas. Andressa, de 19 anos, ganhou fama nacionalmente depois de dançar ao lado de Mc Creu na gravação de um DVD no Rio de Janeiro. A reportagem ainda trás um espaço que fala de algumas mulheres que conquistaram prestígio graças a formas delineadas do corpo.

Baseando-se no texto de Douglas Kellner (1995:9) é possível afirmar que a mídia participa da construção das identidades. O autor afirma que “A cultura veiculada pela mídia fornece o material que cria as identidades pelas quais os indivíduos se inserem nas sociedades (...).” A cultura midiática atua na socialização do ser, o incluindo na civilização e na cultura global. Ela tem um papel pedagogizante, que tenta educar a visão do sujeito para o que é certo e errado, positivo e negativo, moral e imoral. Os meios apresentam, inclusive, modelos daquilo que significa ser feminina ou não. Mulheres com formas definidas, cabelos compridos e lisos, são as imagens mais recorrentes nos meios de comunicação. Em revistas, como a VIP, arquétipos assim são freqüentes. A matéria analisada é mais um exemplo da padronização da figura feminina.

As celebridades apresentadas, na reportagem analisada, foram mulheres que chegaram à fama através de seus corpos. Como Rita Cadillac, Gretchen, Feiticeira e Tiazinha. Por não serem apreciadas por caráter ou personalidade, mas sim por algo provisório, logo saem da mídia e são substituídas por mulheres mais novas que continuem atendendo aos padrões de beleza, como magreza, jovialidade, cabelos lisos e etc.

Na visão da autora, Denise Jodelet (2001), a representação social é uma reconstrução do objeto, que gera a projeção e o preconceito, além de serem produtos e processos de uma atividade de apropriação da realidade exterior. Pois, as representações sociais realizam um recorte do real, selecionando o que se deve ou não ser disseminado na sociedade. A mídia aparece como condição de possibilidade e de determinação das representações. Ao escolher o que irá ser transmitido, acabam ignorando outras realidades, que começam a ser interpretados como aberrações. Quando se foge dos padrões disseminados pela mídia, os indivíduos sofrem preconceitos. O diferente incomoda.

Assim, é possível se afirmar que as representações sociais interferem na assimilação do conhecimento e na definição das identidades pessoais.

As representações sociais encontradas na matéria da Vip reafirmam a dependência da mulher em relação ao seu corpo e à natureza feminina, veiculada atualmente. Na reportagem a construção da figura feminina é desenhada em torno de assuntos relacionados à sedução, sexo e futilidades.

Aprofundando o estudo em representações e culturas midiáticas a cerca do gênero feminino, percebe-se que a representação da feminilidade é a sua própria construção e as mídias participam ativamente dessas construções.

De acordo com Louise H. Forsity,(2003) o ideal de feminilidade, ou seja, o núcleo representacional sobre as mulheres trata-se de um ideal inacessível que gera sentimentos de auto-rejeição. Mais uma vez, as características que entram em choque com o que é difundido pelas mídias, causam estranheza. Ao encontrarem estampando nas páginas de revistas, entre outros meios, apenas mulheres com uma mesma linha de beleza, uma grande parte da população acaba vendo isso como um padrão global, isso resulta em uma intensificação das diferenças.

A matéria da revista VIP não trata de interesses públicos e não defende nenhuma minoria social. Ela trata a figura feminina como um meio de lazer para os homens. As mulheres são tratadas como mercadorias de consumo, inclusive, com data de validade.

Mulher Melancia, a entrevistada na matéria, faz parte de um núcleo de mulheres que aceitam ser taxadas como burras, que só necessitam do corpo para conquistar fama. Em uma entrevista dada ao programa Nada além da verdade, exibido pelo SBT aos domingos, a assistente de palco do programa Pânico na TV, também exibido aos domingos pela emissora Rede TV, a Mulher Samambaia, personagem vivida por Danielle Souza de 26 anos, disse não se importar com o papel que faz, a assistente afirma não se incomodar quando é chamada de burra, pois é paga para isso. Isso reforça, na sociedade, a idéia de que as mulheres não têm vontade própria, estão à mercê do desejo masculino e não se preocupam com questões sócias ou políticas.Com nomes pejorativos e a sexualidade explicita, o apelo erótico em cima da imagem feminina surge às vezes em um grau elevado,o corpo passa a ser visto como objeto da mensagem.

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