terça-feira, 24 de maio de 2011

Saudade de tanta coisa

Saudade do tempo em que eu comia trakinas sentada no tapete velho da sala, sem reclamar da vida.

Saudade do barulho da chuva, na janela do quarto, enquanto eu dormia na cama com o papai e com a mamãe.

Saudade de ouvir estórias engraçadas e desenhar com giz de cera na parede.

Saudade de derrubar varais cheios de roupa e depois ficar de castigo de joelhos, fazendo graça com as gurias.

Saudade de fazer careta, catar milho no teclado, treinar beijo na mão, ensaiar balé no espelho.

Tenho saudade do barulho que eu fazia enquanto mastigava o pirulito antes que o professor entrasse na sala de aula.

Saudade das inúmeras vezes que derramei sabão no quintal da vovó para brincar de escorrega barriga com meus primos. Para falar a verdade, eu tenho saudade dos meus primos, tenho saudade de mim. Antes, éramos uma espécie de ser dividido em vários corpos.

Tenho saudade do meu pai junto com minha mãe, da viagem que fizemos logo que eles se separaram.

Tenho saudade da minha família, que, por algum motivo, se espalhou pelo Brasil afora.

Tenho saudade de alguns ex-namorados, mas só alguns. Desses, ainda guardo um carinho especial e uma imensa saudade das horas que passávamos fazendo o que só nós fazíamos.

Eu tenho saudade do pôr do sol na praia, das ondas fortes do mar, da areia que gruda no pé. E, eu sei, que quando eu for embora de Brasília, vou sentir saudade dela também.

Tenho saudade da minha professora do pré, da minha boneca que sempre quebrava a cabeça no balanço. Tenho saudade dos tempos de ensino médio, das paqueras de menina boba. Tenho saudade da faculdade, mas só de alguns momentos.

Tenho saudade de cada lugar para onde fui nas férias, de cada pessoa boa que conheci. Tenho tanta saudade que nem cabe mais em mim. Ela se transforma em liquido fresco que escorre pelo meu rosto e transforma minhas lembranças em sorrisos. Aí, eu volto no tempo, me entrego ao momento e vivo, por alguns instantes, de pura saudade. E, se um dia eu não sentisse saudade, certamente, morreria desse mal.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Subjetivo, não vá entender errado

Não tenho paciência para tanta efemeridade. Tudo tão fugaz, que acaba me deixando perdida no meio do caminho. Realmente me choco com a tão criticada subjetividade. De mim, ela tira os suspiros mais altos, os olhares mais reveladores e o que restava dos meus neurônios. Desatenção se atenta. As mãos, os braços, a boca, entram em sintonia tentando mostrar o que as palavras fazem questão de não revelar. E, como tudo se resolve na base do dito, mas não dito, não há provas capazes de condenar alguém. Condenar por falar demais e sentir de menos, ou, apenas por não sentir certo. Condenar por atitudes infames, que a gente até sabe que existe, mas nem pode desaprovar. Não com o verbo certo. Assim, ninguém se machuca, se o sentimento muda de uma hora pra outra e um esquece de avisar o outro, afinal, ninguém nunca foi bom com as palavras mesmo. Eu até que faço o que quero, eu bem que sinto o que o coração manda, e, quando quero, eu bem que me atrevo e escrevo. É a única forma de me livrar dessa “desverbalização” a qual me submeto. Que eu disse, disse.

E se prepare para ouvir: não foi isso que eu quis dizer!

Noite

Agora, me pergunto aonde basearei os meus próximos passos. Tenho alguns minutos, antes que o sol nasça e deixe apagado o brilho de quem ainda me fazia companhia. Até que tudo volte a um normal que eu pintava de uma maneira distorcida e rabiscada, tenho algum tempo. Preciso decidir que sapato usar e me lembrar se ainda tenho alguma roupa limpa. Foram horas observando estrelas e discutindo estórias engraçadas, foram planos traçados, abandonados, repensados e deixados de lado, por mais de uma vez. Depois disso, não tinha tempo pra quase mais nada. Foram promessas que eu não pretendia cumprir, lembranças que conseguiram me alcançar e sonhos que me mantiveram acordada. Vi, de longe, a lua mudar de cor, enquanto eu me ajeita para apreciá-la. Corri, caminhei, chorei, pulei. Tudo, sem sair do lugar. Eu tive um milhão de desejos, me apaixonei umas cem vezes, até que escutei baixinho um som me trazer de volta. E, enquanto escovo os dentes, ainda penso na noite que tive, sozinha, sentada na janela, observando a lua. Ela foi minha conselheira, minha amiga por algumas horas.

Às vezes, o mundo parece parar de girar um pouquinho, para que, de alguma forma, tenhamos chance de entendê-lo. Pensamos e fazemos tantas coisas, que se não as colocamos em ordem, acabamos esquecendo quem estamos sendo.

domingo, 15 de maio de 2011

Poeta

Eu queria ser poeta e com uma vírgula traduzir a lágrima, com uma sílaba defender a lua, acusar o amor.
Eu queria ser poeta pra dizer sem falar, cantar sem ao menos meu lábios desgrudar.
Eu queria ser poeta e dona do que eu sinto, que às veze me toma e me faz perceber o quão pequena me torno diante da vida.
Eu queria ser poeta para ser o mar, o sol e meu coração. Queria poder voar e ver alegria na tristeza que compõe um soneto.
Queria viver da arte de criar poemas feitos da folha que toca o chão no outono, da água que molha meus pés na chuva. Me imaginar grande, bem maior que a sensação que me toma conta nos dias de frio, a solidão.
Ah, eu queria sorrir para a maré de azar que sempre me traria boas estórias. Queria tirar do cotidiano rimas coloridas, tirar do não uma contradição, do apego uma crônica, da decepção um aprendizado maior.
Eu queria ser poeta. Queria escrever a qualquer hora e tirar de cada líquido salgado que me cobre a face uma nova inspiração. Queria tirar do nada o meu tudo e ver o mundo de uma forma diferente, por ser diferente. O poeta ama quando quer amar, pois sabe " que todo grande amor só é bem grande se for triste".
Eu queria ser poeta!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mariana

Às vezes, é preciso agir como criança, pensar como criança e convencer o coração de que, apesar da sua altura, você não passa de alguém que corre pela rua, faz o que der na telha e se preocupa mais em sorrir do que em tratar determinados problemas. Porque tem gente que passa a maior parte da vida se preocupando em como vai se livrar dos percalços do caminho, sem perceber que, enquanto isso, a estrada vai ficando para trás sem que as coisas saiam do lugar. Perdemos muito tempo tentando achar explicações que talvez nem usemos, para respostas que ainda nem foram feitas. A vida é curta demais e há muito o que se fazer. Tem muita gente precisando da gente, e talvez essa seja nossa única chance de ajudar. Agora, não custa nada. E quem sabe se um dia chegará a custar? Fazer o que o coração pede, sem usar muito o que a consciência teme talvez seja a pedida certa. O amanhã é outro dia.

Talvez daqui para lá os problemas se resolvam e tudo fique bem. Mas, enquanto pedem a nossa ajuda, por que não ajudar, se é isso que temos vontade de fazer?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu bem que queria...

Eu queria saber voar. Fechar os olhos, sentir o vento soprar no meu rosto, abrir os braços e, finalmente, sentir a liberdade de que tanto falam. Eu queria ter o poder de sobrevoar montanhas, observar tudo do alto e descer quando estivesse cansada. Queria ter as asas de um passarinho pequeno, que, mesmo com todo aquele ar de indefeso, tem o mundo aos seus pés. Eu queria a mesma simplicidade, a mesma beleza e a mesma força. Se eu pudesse escolher, queria também o mesmo assoviar. Com tanta naturalidade, uma musica capaz de encantar qualquer um, de qualquer lugar do mundo, o idioma, aí, é o mesmo, não há barreiras. Ah, e eu voaria só com esse meu dom de cantar. Mas eu queria que minhas asas trouxessem de volta quem está longe e não pôde voltar, quem precisou ir e não sabe como chegar, quem apenas foi, sem pretensão nenhuma de se afastar. Eu só queria ver o amanhecer de perto, enquanto sobrevôo as ondas do mar e trisco, lentamente, a água calçada. Eu queria saber voar, me atirar e ir. Sair de perto, sem desistir. Esquecer a saudade, me afastar da falta de humanidade, descansar, passear. É, seria bom. E quando eu já tivesse conhecido o mundo, montaria meu ninho e viveria o resto da vida num cantinho qualquer, embaixo de uma árvore, bebendo água fresca e escutando a água bater nas pedras perto de casa.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O tempo atropela


O mundo já não é mais o mesmo. Enquanto escrevo, não consigo, nem ao menos, ordenar todas as disparidades que me vêem a mente. Quando era criança, eu costumava andar de bicicleta, jogar futebol na rua e enrolar minha mãe para não tomar banho. Eu bem que tive alguns amores, mas nenhum fugiu da regra. Eram todos platônicos. Aprendi a me maquiar já com uma certa idade, na mesma época em que me percebi indo para a faculdade. Já com meus doze anos, tudo o que eu queria era uma Barbie nova para brincar. Eu tinha várias, com “n”tipos de cabelo, cor, perfume. Me divertia com pedaços de pano, tentando descobrir como transformá-los em uma moderna blusa. Eu, naquela época, não trocava minhas bonecas por nenhum par de sapatos da nova coleção da sapato da corte. Eu era feliz e nem me tocava disso. Ia para a escola com qualquer calça confortável e brigava com os meninos na fila para o banheiro. Eu dançava quadrilha, obedecia as regras, batia nos meus primos, brincava de careta e fazia planos de morar com minhas primas quando eu crescesse. Pois é! Eu cresci. Ganhei um zilhão de responsabilidades. E, quando me lembro, ainda tento parar e observar as estrelas caindo. Carrego, no pulso, a dos meus sonhos, que, quando mais nova, descobri que era meu anjo. Ainda acredito em contos de fadas e em desejos mirabolantes. Eu ainda quero ser atriz de cinema e morar em uma casa com vista com mar. Quero paz para a minha família e um domingo cumprido no parque. Mas eu não sei mais brincar. Eu esqueci a magia de transformar minhas bonecas em amigas confidentes. Esqueci como fechar os olhos para o tempo, enquanto os fantasmas se escondem. Eu nem ao menos me lembro como faço para pedir um beijo de boa noite para a mamãe.

O tempo passa, e ao invés de somar, se não ficamos atentas, ele nos leva o que há de mais precioso. Não precisamos ter medo de ser o que somos, com medos, ingenuidades, fraquezas, brandura. Coisas que só uma criança tem. Se aprendermos a conservar esses valores com a gente, talvez consigamos preservar também nossa felicidade e inocência. Então, que tenhamos força para acreditar no que somos, mesmo que os outros lhe chamem de careta. Pior que ser julgada por alguém é ter motivos para se julgar e se arrepender do que fez!