quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O mundo é o mesmo


Acontecem coisas que por mais que tentemos explicar continuarão sem explicação. Como existirão pessoas que por mais que a gente tente esquecer continuarão sendo inesquecíveis. Pessoas que de alguma forma te ensinaram alguma coisa. Pessoas que te deram um pouco delas, e ajudaram a construir quem você é agora. Mas elas passam, o que não significa que elas precisam ser esquecidas, pelo contrário, elas passaram, mas merecem ser lembradas, pelas coisas maravilhosas que deixou com você. São momentos que escolheu passar com você. Foram milhares de sorrisos que dedicou única e exclusivamente a você. É como se tivesse mesmo que aparecer alguém pra lembrar você qual é a sua importância. Alguém pra te explicar que as coisas podem ser maravilhosas se você confiar em alguém que confie em você. Se você aceitar essa relação de troca, fechar os olhos e permitir que a experiência lhe transforme e lhe traga maturidade. Porque cada lágrima que um dia eu deixei cair, me fez aprender que os meus sorrisos são muito mais valiosos do que eu imaginei. Porque eu aprendi que não importa se uma pessoa te decepciona, ela sempre merece uma segunda chance. A gente pode achar que não tem nada a oferecer, mas quando nos permitimos amar de verdade a gente vê o quanto mudamos o outro e o quanto há de nós nele. Nascem coisas que só os dois são capazes de explicar, surgem momentos dos quais só os dois podem rir, e sempre existirão lembranças que só os dois vão guardar, independente do tempo. A alegria que alguém lhe fez encontrar sempre estará aí dentro, em algum lugar, e basta a gente “se deixar sentir”. Às vezes por medo da saudade, preferimos continuar assim, quietos, sem procurar aquilo que um dia nos fez sorrir. Mas, a saudade, só sinto do que foi bom, e se teve que passar, a única coisa que eu posso fazer é lembrar, mas lembrar sem medo, apenas com saudade. Porque as músicas sempre me dirão as mesmas coisas, os nomes sempre me trarão a mesma sensação e as flores para sempre me darão o mesmo perfume, e não adianta eu fechar os olhos, basta mudar a interpretação. O mundo é grande demais para se tornar insignificante. Eu prefiro continuar vendo os detalhes, mesmo sabendo que uma vez ou outra eles me farão chorar, mesmo tendo a consciência de que as coisas que passam já foram e não costumam voltar. Por mais que a gente tente explicar o futuro e tente acreditar que um dia as coisas se ajeitarão novamente o tempo não volta atrás, e as horas não te esperam até que se acostume a viver de uma maneira nova. É como se cada uma dessas lembranças te empurrassem agora para outras novas lembranças, como cada sinal te revelasse outro sinal, como se tuas expectativas anteriores te abrissem os olhos e revelassem que elas podem sim se concretizar, nem que seja tendo outra companhia daqui pra frente. O que temos para ser feito é tentar fazer com o mesmo vento lhe lembre outra coisa além daquilo que já ficou pra trás.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Incoerência

Eu sempre preferi me expressar em momentos de devaneios, talvez me fazendo acreditar que é exatamente nessas ocasiões que o meu eu permiti-se ser tocado, ou quem sabe, pelo menos, observado. E quiçá devido a isso eu me coloque em saia justa. Falando o que teria de ficar guardado, expondo o que nunca deveria ser desvendado. Não pelo fato de ser segredo, mas por tratar-se de algo que não foi, nem se quer, pensado. Como se eu me visse em um momento de embriaguez, seja ela qual for, onde tudo o que precisa sair desponta, sendo verdade analisada ou uma verdade passageira, algo que se mostrava real naquele momento e que depois de um certo tempo, quem sabe um dia ou dois anos, causa-me um profundo arrependimento. E como calar algo que já foi dito? Como tentar mentir sobre algo que já se foi confessado? Não sei, não saberia explicar nem mesmo aquilo que já expliquei uma vez. Porque me faço de momentos, me entrego à impulsos, que às vezes me fazem bem, mas que outras me tiram o sono por não saber como remediá-los. Por vezes eu disse coisas que não sabia existir dentro de mim. Descobri coisas tarde demais, já tentei voltar atrás, mas o caminho se fechou. Já trai minhas palavras com um simples olhar. Já nem me lembro quantas vezes deixei transparecer sentimentos que eu tentava esconder a sete chaves. Hoje, quem sabe, as coisas tenham mudado, não sei se pra pior. Hoje, eu me propago de uma maneira mais verbal. Não solto gritos por aí, apenas me encolho em um canto qualquer e deixo que as palavras cubram uma folha vazia. Não aconselharia ninguém a acreditar no que eu escrevo, pelo menos não em minhas crônicas umbiguísticas, pois sustento-me de algo mutável, algo que se renova, algo que permite-se abandonar uma idéia e logo alcançar algo mais condizente com sua atual realidade. Minhas palavras alimentam-se de pedaços meus, particularidades que permito serem públicas na esperança de que alguém me ajude a entender alguma complexidades que ainda não consegui entender. Escrevo por querer gritar, mas sei que minha voz não iria tão longe. Eu escrevo quando queria falar pra alguém em particular, mas permito-me arriscar que daqui também serei capaz de atingi-lo. Por fim faço um lembrete, só não acreditem nas palavras que aqui escrevo, assim descompromissadamente, pois se não fosse assim que espécie de jornalista seria eu?
=]

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Daqui da minha janela já não é possível ver seu rosto. O único passo que tu deste seguindo em frente me impossibilitou de continuar tendo a segurança de que a qualquer momento eu poderia gritar teu nome. O medo me tomou completamente, quando percebi que você foi e dessa vez por inteiro. Você me roubou o que ainda me trazia esperança. É como se todas as vezes que eu arrisquei dizer não meu coração soubesse que o sim chegaria mais cedo ou mais tarde. A negação veio e ficou e agora não consigo ver até que ponto ela vai. Eu me estico, tento encontrar com meus olhos o teu olhar. Eu tento fazer minha voz trazer de alguma maneira aos meus ouvidos uma resposta tua. Eu não consigo ver outra saída, meu enquadramento não me permite te perceber. Eu agora prefiro fechar os olhos e ao invés de assistir tudo de fora, parada na minha varanda, eu crio uma realidade totalmente minha onde eu novamente ocupo o lugar de protagonista. Aqui, nesse mundo recém formulado eu consigo perceber que comigo é diferente, por mais que eu tente me igualar. Não importa o quanto eu tenha medo de ser alcançada. O lugar em que me colocaste já é alto o suficiente, daqui ninguém mais me tira. Em minhas fantasias é como se nada mais mudasse o que passou e mesmo assim mudasse tudo. Muda a saudade, e não me deixa ir embora. Faz o meu tratamento continuar igual, mesmo sem poder ser como antes. São incompreensões que aqui eu consigo entender. São irrealidades que parecem ser reais para mim e alguém mais, alguém que aqui eu chamo de você.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Humanidade, é disso que eu sinto falta.
Um mundo onde as aparências gritam mais alto que a solidariedade.
Eu procuro fechar os ouvidos, mas as vozes falam mais alto.
Um bêbado caiu em frente ao caminho que faço para ir comprar linha, pelo sangue no chão, acho que se machucou. Eu vejo nos olhos da minha mãe que ela queria ajudá-lo, quando a lágrima decide deixar de lado a modéstia e correr sua face, eu percebo que realmente se ela pudesse faria algo mais. E por que lembrar só da parte que não lhe agrada? E essa tal parte nem deveria lhe incomodar. Ao beber ele prejudica somente a ele, você nem da família é. Ele nunca lhe faltou com o respeito, nunca lhe fechou a cara. Ele sempre falou com você, por mais enrolada que estivesse sua língua. Você não tem necessidade nem direito de julgá-lo. Em minha opinião o que deveria fazer é ao menos respeitá-lo. Se não quer ajudar, certo! Eu entendo, ou pelo menos tento entender. Mas não me peça pra ouvir calada suas reclamações sobre o rapaz. Um rapaz que nunca nem te chamou de feia. Um ser humano como outro qualquer que pode ter todos os defeitos que forem, mas tem coração. Que tal aprender a estender a mão quando alguém chamar por você? Que tal parar e levar em consideração o melhor lado de cada um, mesmo que esse seja mínimo. Julgue um sorriso bonito, um rosto simpático, distribua elogios e não magoe com palavras quem nunca lhe acusou de nada. Você pode ser uma pessoa ainda melhor praticando a solidariedade.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Esse assunto não se esgota !

Saudades de quando tudo era diferente. De quando parecia que o tempo não passava, as horas se estendiam e eu nem me dava conta de que o dia terminava e logo depois chegava o sol novamente. Do tempo em que eu vivia sem para pra pensar no que eu fiz ou no que esqueci de fazer. Onde não me importava com o que falava ou muito menos com os quilos a mais.
Saudades de quando você chegava na hora em que tirei pra dormir, exatamente quando o sol também decidia descansar, e sem se importar com a reação da mamãe apenas me abraçava forte. Minhas melhores lembranças são da minha infância, quando tudo o que eu tinha era o suficiente, onde rir era algo comum e a preocupação nem existia. Dos tempos em que eu não via minha mãe chorar, nem o senhor desesperado por causa do dinheiro.
Saudades de quando eu escorregava pelos seus braços por não agüentar mais de sono, saudade das galinhadas, dos almoços apimentados. Saudades das vezes em que eu me contentava com um bloco de papel que o senhor trazia do serviço. Saudade de quando eu cortava o dedo e você dava um beijinho pra sarar. Saudade de você e da mamãe, mas juntos. Eu sinto saudade da minha família, sinto falta do meu pai. Que passava um tempão fora de casa, mas que eu sabia que mais cedo ou mais tarde passaria pela porta. Como eu sinto falta dos teus cabelos cacheados e das vezes que levantou a sandália pra me bater, mesmo nunca ter tido coragem de descê-la. Eu não me importo com as lágrimas que caem no meu rosto, eu sobrevivo a isso, como sobrevivi ao fato de ver o meu único herói virar as costas e escolher outro caminho pra trilhar. Um caminho que parece ser apertado demais, nele não tem espaço pras mesmas brincadeiras, pros meus longos sorrisos, nele não caberia uma a mais. Sei que o que queria ouvir não é exatamente isso, eu deveria fazer força para continuar caminhando ao teu lado. Eu deveria ter força para continuar indo em frente, tentando descobrir quais seriam minhas próximas saudades. Eu deveria entender que o tempo não volta, que eu tenho que levantar a cabeça e apenas tentar entender. Mas o senhor não me ensinou nada disso. E disso eu tenho certeza, porque cada frase já dita, cada sorriso que eu já ganhei do senhor permanece guardado dentro de mim, e por mais força que eu faça essas lembranças não saem daqui. Já faz tempo bastante, mas a minha infância ainda está aqui dentro, esperando o senhor decidir voltar pra que ela possa despertar novamente.

Consciência Social

Entrei na Universidade quando ainda tinha 17 anos. Uma experiência única e inesquecível. Logo de início, no meu primeiro semestre do curso, já me vi totalmente desesperada. A professora que ministrava uma disciplina que eu considerava inútil me passou um trabalho, exercício difícil que prometia tirar meu sono durante uns seis meses. Chegada a hora da escolha de minha dupla deparei-me com outro problema, eu não conhecia ninguém, muito menos alguém disposto a participar comigo de uma tarefa daquele nível. Mas a tortura não durou muito tempo, logo conheci Keka Gutierrez, uma amiga com quem hoje posso contar a qualquer hora. A escolha do nosso tema não foi das mais fáceis, tínhamos que optar por algo que gostávamos para então criarmos um empreendimento relacionado com aquilo.
As opções eram muitas, já as idéias não vinham com tanta facilidade. A princípio decidimos trabalhar com moda, pelo simples fato de ter uma mãe costureira. Pesquisamos e percebemos que já havia muitas coisas relacionadas com isso na internet. A Keka é intérprete e trabalhou algum tempo na TV Brasília, ela tinha contato direto com assuntos relacionados a minorias sociais.
O tema que mais encantava minha amiga era inclusão social, então ficou decidido que faríamos um site voltado exclusivamente para pessoas com algum tipo de deficiência. Fiquei apreensiva, trabalhar com moda seria muito mais prático e rápido, mas aceitei o desafio.
Por trabalhar na área, Gutierrez disponha de muito material, a única coisa que faltava para que pudéssemos por em prática nosso projeto era alguém que entendesse de site e alguma matéria falando sobre Síndrome de Down. Keka já tinha os contatos, apenas pediu para que eu conversasse com Patrícia Almeida, coordenadora do Instituto Meta Social aqui em Brasília.
Na segunda-feira decidi ir até o local marcado para entrevista, e me surpreendi completamente. Encontrei uma pessoa totalmente diferente do que imaginava. A mulher que me esperava trazia um sorriso no rosto e me recebeu muito bem. Nervosa, tratei de ir logo ao ponto perguntei como tinha surgido o Instituto, como nasceu a idéia de criá-lo. Mais uma vez fiquei admirada, Patrícia começou a me falar de um dia que tinha ido ao parque com sua filha Paula, uma amiga, a Helena, e sua filha.
As duas amigas havia decido levar suas filhas ao parque, ambas com Síndrome de Down. Ao perceber que os olhares não se desviavam das pequenas meninas as mães começaram a conversar sobre o assunto. A discriminação era clara. Para Patrícia e Helena o problema tinha de ser cortado pela raiz. O preconceito nasce da falta de informação, e foi exatamente pensando assim que as duas decidiram criar um Instituto. O Meta não atende o público de uma forma direta, ele procura espaço na mídia para a divulgação de suas campanhas, tentando conscientizar a população sobre a capacidade das pessoas com SD.
A matéria estava escrita, o trabalho rendeu bom fruto. Em dois anos de curso ainda não me deparei com outra tarefa que tenha me enriquecido tanto e tenha me dado tanto orgulho. Pois não basta saber escrever ou falar com desenvoltura, o maior bem que temos é o que está dentro de cada um. Ofereça o melhor de você, ofereça respeito.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O cansaço não me permite ver muitas das coisas que me cercam de alguma forma. É como se meus olhos fossem literalmente tapados por algo que desconheço. Não me refiro a um esgotamento físico, quem dera fosse esse o meu tipo de canseira. É algo mais subjetivo, menos compreensível, alguma coisa que me toca de repente, vem sem eu me preparar. Me canso sem enxergar o limite de onde era pra eu ter parado, vem de uma hora pra outra, e quando eu posso perceber, o estresse já me fez passar despercebida pela flor que acabou de brotar no meu jardim. Eu já fui e não pude voltar. Eu passei e não olhei pro sorriso que eu há tanto tempo aguardava. Puxei a minha mão na hora errada, virei o rosto quando deveria ter prestado atenção. Tudo isso por falta de paciência, por não saber entender que minhas relações com os outros precisam, obviamente, contar com atitudes de ambas as partes, e que cada um tem seu tempo pra tudo. Não posso sorrir esperando um sorriso em troca. E talvez, eu disse só talvez, a chave de tudo esteja aí. Fazer tudo sem esperar que em troca você ganhe uma resposta. Porque quem sabe aquele não nem tenha sido uma verdadeira negação. O egoísmo estraga tudo e nos faz cansar de algo totalmente irrelevante, algo irreal. Concordo que você tenha que pensar e você, e que tudo se resume a isso. Mas não adianta pensarmos da maneira errada. Não nos ajuda ter uma interpretação pra tudo, às vezes atrapalha. Eu não tenho tempo a perder, por isso tenha que tentar errar menos. Isso não significa me privar de arriscar, mas sim tentar insistir sempre. Buscar a resposta que lhe convém, e não enxergar o que aparenta ser. É fechar os olhos e ir além, ultrapassar o limite da lógica. É tentar entender o incompreensível. Ver o que ninguém mais vê. Duvidar do que todo mundo enxerga. É tapar os ouvidos para o resto do mundo e se concentrar na voz que vem do seu interior. É usar o seu egoísmo a teu favor!