sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Desculpe se falei demais


Ultimamente, muito se fala em mudar o mundo. Gente encapuzada tentando acordar um suposto gigante adormecido na terra, lutando por direitos que realmente se perderam pelo caminho. Não digo que a causa não é nobre, muito pelo contrario. Acredito mesmo que o mundo gira ao contrario há muito tempo. Para ser mais precisa, não me lembro de ter vivido em um mundo limpo como esse que almejamos. Usando bem a sinceridade, eu  não acredito, no fundo no fundo, que essa idéia otimista de mudar o mundo possa ser real. Costumo agir como São Tomé em casos assim: “só acredito, vendo”. Mas, contudo, no entanto, todavia... Eu guardo em mim o anseio de um mundo melhor. E, sem querer parecer mais do mesmo,  eu morro de vontade de mudar o mundo. Diria eu que com técnicas bem menos atuais, com ferramentas bem mais simples, que conhecemos há alguns milênios e que de alguma forma ficaram adormecidas ao lado do tal gigante. Eu queria que as mesmas pessoas que estacionam os carros na esquina de protestos a favor do transporte público tivessem a vontade de observar o rosto de uma criança que vende balas no sinal sem nenhum tipo de julgamento. Queria que um olhar sincero, de míseros dois minutos, fosse capaz de decorar cada traço de um sorriso amarelado quando as mãos pequenas recebem um pacote de biscoito. Eu queria que percebêssemos quem senta ao nosso lado no ônibus, quem segura a porta do elevador. Sonho com o dia em que eu possa rir todos os dias, mesmo de mau humor, dos meninos que dividem uma bicicleta que ganharam de um vizinho, do garoto descalço que se diverte contando os pingos da chuva enquanto observa o céu mudar de cor. E eu realmente queria que todo mundo percebesse o quanto é bom um abraço de mãe, um conselho de pai, um cafuné da vovó. Todo mundo. E se todo o mundo percebesse a felicidade em perceber o outro, talvez estivéssemos mais perto de manter o gigante de pé, ou talvez ele nem precisasse dormir. Observar o próximo e sentir que de algum jeito a gente pode ajudar acho que é a melhor sensação que Deus nos oferece. E só temos que perceber isso. Todos nós.