Eu daria qualquer coisa para voltar a ser criança. É que, assim, bem de repente, me deu uma saudade de me esconder no abraço do papai, que ,com um sopro, sarava meu dodói e com um beijinho me colocava para dormir. É que, em quase dezesseis anos, eu nunca tinha parado para pensar em quantas coisas eu abdiquei para tentar ser gente grande. Não tenho mais a bota da Xuxa, a casinha da Moranguinho e um bambolê multicolorido. Minha mãe não arruma mais meu cabelo, não me põe uma roupa bonita e nem me leva para a escola. E meu pai... Meu pai não me dá mais boa noite todo dia, ou faz meu prato predileto no almoço. Ele não me conta mais histórias, não me leva pra passear ou trás papéis do trabalho pra eu brincar de escritório na sala. Ele nem ao menos entra na frente da mamãe para me defender de umas boas palmadas. Como eu gostava de fingir que estava dormindo só para ele me carregar no colo, como eu me esforçava para acompanhar seus passos apressados - minhas pernas doíam, mas eu não queria parar – e como eu sentia saudade quando ele demorava a voltar para casa. Acontece que, dessa vez, ele está demorando demais. Ele perdeu alguns aniversários, se atrasou para outros. Mentiu sobre algumas visitas e sumiu durante meses. E, nessa semana, quando ele me pediu desculpa por isso, foi como se meu coração parasse e começasse a bater de novo, como se o sorriso que ficou escondido naquela festa de aniversário, enquanto eu o procurava para entregar o primeiro pedaço, pudesse finalmente deixar meus lábios. Às vezes, meio que do nada, me dá uma vontade de chorar... E eu começo a rezar baixinho, pedindo para que a saudade diminua e o meu fôlego volte. Me fiz de forte, fingi que era aquilo o melhor para todos, mas a verdade é que só eu sei a falta que meu super herói particular faz. Eu ainda lembro da disposição de cada móvel da casa, lembro do carro velho dele parado do lado de fora e do bar aonde ele começava a ir. Minha infância é mais nítida na minha mente do que o dia de ontem. Isso me aproxima dele! Eu lembro do automóvel com algumas tralhas e lembro de ter dito tchau. Eu nem entendia porque... Achei que voltaríamos logo, os três para casa....
Ele é o homem mais importante da minha vida, a minha maior saudade. Eu adoro ser sua secretária, ler seus e-mails, digitar suas cotações. Adoro qualquer coisa que me deixe pelo cinco minutos a mais do seu lado. Talvez, se tivéssemos ficado juntos, hoje seria tudo diferente. Seríamos um e não três... E eu adoro quando estou pensando em você e você, do nada, me liga. Igual aconteceu agora. Então, de uma maneira ou de outra, estamos ligados um ao outro. Você e a menininha com cabelo engraçado enforcando o coelho. Enquanto eu conseguir guardá-la em mim, sei que também guardarei os momentos bons que passamos juntos, todos eles. As coisas não são exatamente como eu queria, ela – a menininha da parede - aparece menos do que precisava aparecer. Mas, ela, e eu também, ama demais o senhor!
Saudade